quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O tempo e o pensamento


É claro que associar a temperatura de um país à sua personalidade é uma tentativa frustrada uma vez que se aproxima de um determinismo cultural amplamente negado no século XXI, podendo, se dito por bocas erradas, chegar a conclusões absurdas como associar características físicas a um possível comportamento criminoso. Mas sobre o clima e o comportamento, apesar de nunca ter visto nenhum estudo sobre o assunto, posso dizer que a experiência corporal do frio e do calor associada a personalidade é amplamente percebida pelo indivíduo, e talvez até difundida em algumas mesas de bares. E observem que estou em um dos países europeus mais próximo dos trópicos, portanto, mais quente que os países do norte, e enquanto aqui bato os beiços em temperaturas de 10º C e dias chuvosos, especulá-se que lá pelas bandas do norte já fazem temperaturas negativas e algures já nevam.
Daí a iniciativa de falar através do corpo, com medo de fazer generalizações lombrosianas, mas tenho que confessar que nestes dias frios, que nunca acabam, tenho me sentido bem dentro de casa com meu conjunto de moletom cinza, ou em bibliotecas aquecidas e cadeiras confortáveis, e posso  passar dias, meses, assim sem me incomodar, sem sentir vontade de pular da cama  e sair de casa que o calor de 33º C te faz pois o suor não pára de escorrer e pedir vento e água, sem que sinta falta de tomar uma cerveja estupidamente gelada com os amigos ou inimigos, que seja, desde que se possa refrescar a garganta. Passar dias em casa, isolado, pode moldar uma personalidade (sem fazer hierarquias).
Talvez por isso Heidegger possua um grau de abstração inimaginável. E não importa se eu escolher passar minha vida inteira por lá, é uma questão de habitus que vai além de minha geração. Mas uma coisa posso garantir, se as pessoas gostam tanto do frio como dizem não haveria necessidade de aquecedores. O que me deixa fula da vida, é quando me perguntam se estou gostando do frio, e eu respondo que frio é bom por uma semana, mas depois o calor deve se restabelecer, depois de meses em que o frio não passa os ossos passam a doer, o frio entranha em cada verme do seu corpo, a unha do seu dedinho pede calor. E uma coisa eu repito, se o frio fosse tão bom como costumam dizer, as pessoas não ficariam em casa perto de seus aquecedores, elas estariam nos parques batendo os beiços ao invés de bibliotecas aquecidas estudando.  



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Redescobrindo-me


Nada, nem ninguém que conheci em minha humilde e extravagante existência passou despercebido. Mesmo as pessoas com quem convivi apenas um dia, se tinham algo interessante a me dizer, posso dizer que aprendi, tirei leite de pedras, por isso algumas pessoas as vezes me encontram calada, com cara de desconfiada pelas beiradas, mas na verdade estava ouvindo e analisando tudo o que diziam, mesmo que fosse para discernir o que presta e o que não presta. Talvez eu tenha amadurecido muito devagar, e as vezes, em outros aspectos muito rápido. Quando viajei para bolívia conheci um peruano em uma noite suja, e foi assim que aprendi a falar espanhol, a ele confessei minha angústia em achar que a vida se resumiria simplesmente em casar e ter filhos, se existíamos somente para isso, e mesmo que em cada dia de minha vida eu me afastasse dessa realidade em ser apenas mais um na multidão, o mundo me puxava de volta e me dizia, 'sim, apenas mais um na multidão'.
Quando somos jovens (e ainda me considero jovem, ok, mas não tão jovem quanto quando me fazia aquela pergunta aos 21 anos) temos mania de grandeza. Até que nesta mesma época, um amigo me disse sobre um poeta que não me recordo o nome, nem sei se foi citado, mas a essência do poema dizia: quando jovem queria mudar o mundo, mas percebi que era muito difícil mudar o mundo, então queria mudar meu país, depois minha cidade, meu bairro, minha família, até que descobri que se tivesse mudado a mim teria mudado minha família, e depois meu bairro e assim por diante. Eu ainda era muito nova para perceber o significado daquilo, não que eu não me visse em constante transformação, mas o desejo de mudar o mundo ainda era latente. Hoje sou capaz de compreender melhor o que ele queria me dizer. A beira de completar apenas 28 anos, ainda me sinto tão jovem, mas mudei. Aprendi com ele também, que a motivação da vida está nas realizações de pequenos projetos, e a cada pequeno projeto damos passo a mais uma nova realização, uma conquista diária, seja qual for seu projeto pessoal, casar e ter filhos, lutar por direitos humanos em seu país, ter o diploma de PhD, são conquistas diárias, e que devem sempre se renovar, um acaba e outro recomeça. E é o que motiva hoje em dia, pequenas realizações diárias. E assim pude perceber que as vezes as portas ainda não se abriram simplesmente porque esqueci de bater.

Desculpem o poste demasiadamente pessoal e sentimental, mas a semana do aniversário sempre mexe com a gente.   

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Redescobrindo o Mundo


São tantas coisas que as vezes me esqueço de escrever sobre tudo que estou a viver e sentir por aqui.

Das pessoas maravilhosas pelo mundo: eu tenho um teoria (aliás, várias, já até inventei a máquina do tempo, rs), para cada gente chata no mundo existem 3 gente boa. Se apegue a estas, as outras, esqueça. Por aqui há muitos brasileiros, o governo Dilma está espalhando bolsas aos montes, e é claro, pela facilidade da língua, Portugal é um país visado. e pela primeira vez na vida consegui entender porque os brasileiros podem ser tão exóticos aos olhos dos estrangeiros. Agora também entendo porque os portugueses estão familiarizados com nosso idioma, que não é só por causa das novelas que assistem por aqui, mas também porque muitas das traduções de livros para português são de edições brasileiras, e de filmes também. Na aula um professor citou Machado de Assis, ‘O Alienista’, as vezes acho que o Brasil é o filho prodígio de sua nação, um país com uma diversidade musical, de literatura e misturas que não há em outro lugar do mundo, etc, etc, etc. mistura é a palavra que o mundo grita em contraposição à nacionalismos estúpidos, mistura é a palavra que as pessoas ‘gente boa’ gritam em oposição à um mundo de crise e protecionista, mistura é a palavra que se grita quando se depara com imperialismos falidos. A gente não sabe disso porque já somos mestiços por ‘natureza’ e é essa mescla que tanto provoca admiração dos outros, e que faz com que sejamos diversos não só na cor, mas também na música, literatura, etc, etc, etc. sempre aceitamos o diferente como um de nós. A América (EUA) é o mundo, só que as vezes não. Cada dia mais vejo pessoas querendo saber o que ocorre na periferia, e não são pessoas da minha geração (não que eu seja velha) mas são pessoas um pouco mais novas, e fico feliz quando vejo o mundo querendo se misturar, é uma diplomacia global. quando essas pessoas chegarem ao poder, talvez o mundo seja um pouco melhor.
Não é que não goste de brasileiros, mas aqui, prefiro andar com os outros, aprender mais sobre novas culturas. Misturar. Daí conheci pessoas maravilhosas, dispostas a aprender mais sobre o mundo do que reafirmar valores de sua própria cultura, situação muito diferente da qual encontrei quando viajei para Bolívia e Peru 5 anos atrás.
Minhas aulas começaram na segunda, e na segunda também comecei a trabalhar na cantina da universidade, ganho em refeições, mas posso vender os tickts. O trabalho é duro, sinistro, mas ninguém disse que seria fácil certo. A verdade é que no final daquela segunda, depois de ter trabalhado das 8h da manhã até as 15h e ter aulas das 17h às 19:30, sentir meu corpo dolorido e exaustão, a única coisa que eu pude pensar foi o quanto estou feliz em estar aqui, o quanto estou feliz pela minha decisão de começar de novo aqui. De poder conhecer pessoas maravilhosas, em estar estudando o que eu gosto e quero, o quanto tenho aprendido sobre o mundo conhecendo pessoas.

Não me arrependo nem por um segundo.  


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Big brother is watching you

Para tentar me apropriar um pouquinho do blog tb, aqui vai meu primeiro post depois de quase dois meses aqui na Carolina do Norte, vao algumas primeiras impressoes, que jah nao sao mais tao primeiras assim... rs!!Apenas para esclarecer, eu ainda nao consegui colocar acentos neste teclado, entao vai sem til, cedilha, etc etc... uso o H para indicar acento agudo!

Bem, aqui estou eu do lado de cah, enquanto Camilita do lado de lah... jah se vao quase dois meses e uma retrospectiva de tantas emocoes vividas seria exaustiva, rsrs, entao tentarei sumarizar algumas coisitas...

Basicamente as primeiras semanas foram de adaptacao, na tentativa de montar um cafofo decente no qual eu pudesse receber todos os meus queridos amigos q virao me visitar :D
Alem da correria para ajeitar toda a burocracia necessaria qnd se esta "imigrando" por um tempo para um outro pais, especialmente se falando em Estados Unidos... assim, compra cama, lencol, escrivaninha, sobe  com tudo pelas escadas, monta moveis, tira carteira de motorista, compra carro, um caos, mas mto prazeroso ver td se ajeitando e poder dizer q estou instalada e muito bem instalada no meu cafofinha! Claro que nao posso deixar de mencionar que nada disso estaria e seria assim sem a ajuda da minha querida mamis que veio passar as duas primeiras semanas do caos aqui comigo!!! Nem preciso dizer que ela parecinha uma menininha feliz diante de tanta coisa diferente... na primeira ida a universidade diria que mto mais parecia ela q ia estudar lah do que eu... tirava foto de cada cantinho, numa felicidade soh :)))

Passadas as intalacoes, inicio de aulas, mtass orientacoes e ainda burocracias... aqui vc "nao existe" se nao tiver o total do Social Security Number, logo fui atras do meu, que  normalmente demoraria duas semanas para chegar... mas eh claro, que como na minha vida td tem sempre que ser com mta emocao, o meu deu problema e nao chegou, a universidade me escreve dizendo que se nao fornecesse o SSN, a minha bolsa de auxilio seria cancelada, desesperei e fui tentar entener what the hell was going on... chegando no office, descobri que basicamente todo o problema girava em torno do meu nome... o caso eh que por ele ser grande demais nao cabia no formulario e eles nao conseguiam bater meu nome com o do passaporte... enfim, alguem sabe me dizer porque brasileiro adooora colocar um monte nome??? Provalvente isso advem de costumes Portugueses!! Enfim, depois de quase um mes, problema resolvido e eu enfim existo nos States!!!!

Uma coisa que tem me abismado mto por aqui eh a fiscalizacao e seguranca, a impressao que tenho as vezes eh que estou no livro de George Orwel - 1984... a policia parece estar em todo lugar, se ha algo suspeito cerca da universidade recebemos alerta por email... as coisas aqui fecham as 2hrs da manha, e como em mtos lugares da Europa nao se pode beber em via publica! Nao se faz nada sem carro... ja que carro eh mto barato, todo mundo tem, mas qnd eu digo todo mundo, eh todo mundo messmoo... logo o transporte publico eh precario! Alem disso, toda vez que se compra bebida tem q se apresentar a ID, mas o pior eh que me parece que eles anotam o numero... sera qe eles controlam o qnt se bebe? oO

Mas mudando de assunto, outra coisa que me impressionou eh que nao se consegue comprar nada de tamanho "pequeno"... td vem em pacotes megas! Se eu quero comprar soh um chocolatinho, um suco pequeno... eh uma dificuldade agora entendo pq estao querendo proibir a venda de bebidas grandes em NY, rsrsrs!!! Nas minhas aventurancas por aqui, conversando com um e com outro, descobri que nao ha nada que nao se possa encontrar por aqui... o q de fato tem se mostrado verdade... nessa semana fui a um supermercado e comprei carambola - star fruit (especialmente para vc Camila), farinha de mandioca, mandioca, leite condensado (e a moca se chama la lechera) e pao de queijo, quer mais ou ta bom? Ta, nada genuinamente brasileiro, escrito em bom portugues, mas nao se nota!!! Amanha tem jantar do departamento e vou levar pao de queijo e brigadeiro!! Nao preciso nem dizer que comi metade do brigadeiro enquanto enrolava, rsrsrs!! Aqui vao algumas fotinhos!!

 La lechera


Star fruit

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Redescobrindo Portugal II


Ok galera, eu sei que tô devendo muitos textos e informações à vocês, mas é que me tem faltado inspiração e ôdío meus textos sem inspiração, ficam sacal por demais. Acho que encontrei uma ponta de algo por aqui, vamos tentar.
Já é outono e o tempo mudou de forma impressionante, não tô acostumada com isso, nublou e muito vento, daí me lembro das aulas de geografia e de como é o clima temperado com estações bem definidas. Muito diferente de Vitória em seus constantes 30º C.

Das coisas brasileiras que vi por aqui: certamente a “semelhança” da língua ajuda, semelhança porque é claro que uma língua sofre transformações ao longo do tempo, e nós, com nossos diferentes sotaques sabemos muito bem disso. Mas não é só isso, pois se fosse, teríamos muitas coisas portuguesas no brasil, o que não ocorre. Mas já na estação de trem vi Juliana Paes estampada em uma capa de revista, que contava não só sobre “Gabriela” como também sobre sua vida pessoal. (um húngaro, que por acaso também assiste novelas brasileiras,  me disse que eu parecia com ela, hauhauhauhauaha, chupa essa manga Juliana). E mais tarde um gajo lendo a revista em quadrinhos de maurício de Sousa ‘turma da mônica’. De alguns portugueses que conheci aqui e outros argentinos, Jorge Amado é um nome conhecido, e estou a ler “capitães de Areia” e já o prometi a diversas pessoas... quero só ver se eles me cobrarem. Fora é claro todas as músicas brasileiras, incluindo michel teló, mundialmente famoso por ‘ai se eu te pego’, com tradução em diversas línguas, e que se fez presente no almoço/janta com brasileiros, turcos, húngaros, alemães e argentinos (acho que não tô esquecendo nenhuma nacionalidade). Ei você intelectual de esquerda, não tenho vergonha de ser da terra de teló, acho engraçado, e se pedir sambo e danço até o chão.... pronto falei!

Das coisas portuguesas que vejo por aí: o que não pude deixar de notar foram as “pedras portuguesas” (por aqui eles não chamam assim) que cobrem o chão por toda parte, alguns nomes em comum, principalmente nas terras cariocas (sede da coroa português e que com certeza conserva muita influencia), como ‘lapa’ (que eu ainda não descobri o que é), e outros como largo (praça para os leigos, rs), e os arcos como aqueduto, (arcos da lapa).
Tive uma conversa bêbada e de boteco com um ‘autêntico’ português e descobri que o que se pensa ser uma ausência de identidade na verdade é uma identidade fortíssima. Em um papo de filosofia de boteco, nem tão infundado assim, entendi a luta pela formação de um território-nação e ao mesmo tempo a incorporação de outras culturas (mouras, celtas, espanhóis e romanos) como base da formação do país, e a tentativa deles de se fazer entender (seja em língua indígena ou árabe) e que até hoje por aqui se preserva e que também herdamos e nos vangloriamos tanto, talvez por isso eles me entendam bem melhor quando falo ‘meu-nosso’ português, e o contrário não ocorre. Sinto-me em dívida com isso juro.
 Pela primeira vez não me arrependi de ter lido Raymundo Faoro, tô é arrependida de não ter trazido aquela bíblia de livro de 650 páginas escritas em linguagem de advogado (saravá). Mas “os donos do poder” é um ótimo livro para entender a história de Portugal e brasil.

Ai cansei, são tantas semelhanças e desavenças, rancores e passados inglórios que se me aprofundar mais no assunto vou virar mais historiadora do que antropóloga, rs. Mas ainda há muito a ser dito sobre as terras de Cabral. Além é claro que os pastéis de Belém são deliciosíssimos...

rua do jardim botâncio (Rio de Janeiro?)

Arcos (da lapa?)

Favela?

sem comentários

a praxe

almoço/jantar internacional

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Redescobrindo Portugal


Quando pensei em escrever sobre minha viagem para Portugal, pensei em um título como, Colonizando os colonizadores, mas depois de alguns dias aqui achei mais adequado Redescobrindo Portugal, pois o que pude observar é que eles sabem muito mais sobre nós do que nós deles, se alguém me diz que é alemão consigo perceber nesta pessoa um típico alemão, e assim com os franceses, espanhóis, italianos, ingleses. Mas quem são os Portugueses? A verdade é que ainda não sei.
Esqueça tudo que te disseram que são taciturnos e antipáticos. Seja simpático e receberás simpatia. Desde que cheguei aqui todos me responderam de forma terna e amistosa, logo percebem que sou brasileira e falam devagar para que eu possa compreender tudo e me explicam com uma riqueza de detalhes e só se dão por satisfeitos quando percebem que compreendi muito bem. E gente escrota tem em todo lugar do mundo, inclusive no Brasil.
Bem, recapitulando. Saí de Vitória-ES, Brasil, às 13 e 20 para o Galeão-R J, de lá peguei o voo as 19h para Madri, e estava tão cansada que logo já dormia, acordei para o jantar e logo voltei a dormir. O aeroporto de Madri é GIGANTE, tem que pegar um metrô para ir de um portão à outro, e entre o primeiro e o ultimo portão daquela parada são 40 minutos de caminhada. 1 hora de voo até Porto, metrô do aeroporto até a estação de trem, depois mais uma hora de Porto até Coimbra (13 euros é a mais barata, tem mais cara), taxi até o hostel (5 euros).No hostel, como era de se esperar, muitos brasileiros, e pasmem, 3 capixabas.
Daí começou a saga para achar um quarto para alugar, um calor de 35º umidade do ar baixíssima e nenhum vento. Ok, já passou. Achei um quartinho e agora estou a morar com uma portuguesa, que é a melhor pessoas que eu poderia encontrar em todo mundo, um achado sem igual e uma sorte absurda, como tudo que tem acontecido comigo por aqui, e um espanhol que acabou de chegar, parece muito simpático e prestativo, muito fofo.

No próximo poste, discurso sobre o novo acordo ortográfico, que tive que concordar, favorece o Brasil, estaríamos nos tornando um país imperialista? rs

Galera, vou ficar devendo as fotos da cidade porque a bateria da máquina tinha acabado e na loucura de viver em hostel nem quis mexer em minha mala para procurar carregado. Sorry.
Seguem as fotos de meu quarto e da cozinha.